Friday, January 2, 2009

Hoje tenho saudades... até de mim!


“Em todos nós, no mais profundo da alma, há uma subterrânea inquietação, o desejo daquilo que parece sempre escapar-nos, a dor por qualquer coisa que não sabemos bem o que seja. Até quando estamos apaixonados e somos correspondidos, no momento em que nos vamos embora ou o nosso amado parte, mesmo numa separação breve, aquele sofrimento profundo reaparece. Por vezes reaparece até num momento de felicidade porque aquela felicidade se nos revela fugaz. Nós olhamos para o céu, um pequeno pedaço de céu azul, como que para concentrar nele toda a nossa felicidade e sentimos tristeza porque poderemos recordar aquele céu mas não podemos prolongar esse instante. Experimentamos este sofrimento à noite, sem motivo, de manhã ao acordar sem saber porquê. A nossa alma está construída para desejar algo absoluto e, portanto, inefável e inacessível. Quando estamos ocupados não nos apercebemos disso (…) mas toda a nossa vontade está orientada para a meta e é ela que se ilumina com aquilo que procuramos sempre…”


in “A árvore da vida”, Francesco Alberoni

Thursday, January 1, 2009

Mudam-se os tempos,

mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem (se algum houve…) as saudades.
O tempo cobra o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.


E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.



Luís de Camões (1595)

Feliz Ano Novo


“O Papalagui adora muita coisa, mas acima de tudo gosta de uma coisa que não se pode agarrar e que no entanto existe: o tempo. Leva-o muito a sério e conta toda a espécie de tolices acerca dele. Embora não possa haver mais tempo do que o que medeia do nascimento ao pôr-do-sol, isso para o Papalagui nunca é bastante(…) Ao ouvir o barulho da máquina do tempo, queixa-se assim: “Que pesado fardo! mais uma hora passou!” E, ao dizê-lo, mostra geralmente um ar triste, como alguém condenado a uma grande tragédia. No entanto logo a seguir principia uma nova hora! (…) Oh! Meus queridos irmãos! Nós nunca nos queixamos do tempo, amámo-lo e acolhemo-lo tal como ele era, nunca corremos atrás dele, nunca tentamos amalgamá-lo ou cortá-lo em pedaços. Nunca ele nos deixou desesperados ou acabrunhados. Se algum de nós há aí a quem falte tempo, que diga! Todos nós o possuímos em quantidade, não temos razões de queixa. Não precisamos de mais tempo do que o que temos, temos sempre tempo suficiente. Sabemos que atingiremos o nosso alvo a tempo, e que muito embora ignoremos quantas luas se passaram, o Grande Espírito nos chamará quando lhe aprouver. Devemos curar o Papalagui da sua loucura e desvario, para que ele volte a ter noção do verdadeiro tempo que tem perdido. Devemos destruir as suas pequenas máquinas do tempo e levá-lo a confessar que há muito mais tempo do nascer ao pôr-do-sol do que ao homem lhe é dado a gastar”

O Papalagui, tradução de Luiza Neto Jorge
Que este ano não nos falte o tempo, tempo para aprender e esquecer, amar e perder, trabalhar e vencer, ultrapassar obstáculos mesmo que não de forma tão rápida quanto gostaríamos.
Se não corrermos, andamos. Se não andarmos, gatinhamos. O que interessa é ir andando. Não é isto a vida?
Que 2009 seja, sobretudo, um ano de crescimento pessoal e que, ainda que possa vir a ser muito agitado, saibamos manter o silêncio em nós. Bom ano para todos! Muita paz, amor e alegria...