Tuesday, November 6, 2007


"Toda a sensação de esperança tinha desaparecido, bem como qualquer noção de futuro: o meu cérebro, escravo de hormonas desordenadas, tinha deixado de ser um órgão de pensamento para se tornar num instrumento que registava, minuto a minuto, vários graus do seu próprio sofrimento. As próprias manhãs tinham-se tornado más, à medida que eu vagueava letárgico... mas as tardes eram ainda piores, quando o horror, qual nevoeiro venenoso, se apossava da minha mente, obrigando-me a recolher ao leito. Quedava-me aí, durante seis horas, em estupor e virtualmente paralisado, contemplando o tecto e esperando pelo momento da noite no qual, misteriosamente, a crucificação se atenuaria, dando-me forças para ingerir, a custo, algum alimento e, tal como um autómato, voltar a ser capaz de dormir durante uma ou duas horas."


Styron, W., in Escuridão Visível

1 comment:

Sílvia Lopes said...

isso a modos k s adequa ao nosso trabalho... esse estado de melancolia!