Sunday, February 22, 2009

A linguagem do mundo!!


Então foi como se o tempo parasse, e a Alma do Mundo surgisse com toda a força diante do rapaz. Quando ele olhou os seus olhos negros, os seus lábios indecisos entre um sorriso e o silêncio, compreendeu a parte mais importante e mais sábia da Linguagem que o mundo falava, e que todas as pessoas da terra eram capazes de escutar nos seus corações. E isso era chamado Amor, uma coisa mais antiga que os homens e que o próprio deserto, e que, no entanto, ressurgia sempre com a mesma força onde quer que dois pares de olhos se cruzassem como se cruzaram aqueles dois pares de olhos diante de um poço. Os lábios finalmente resolveram dar um sorriso, e aquilo era um sinal, o sinal que ele esperou sem saber durante tanto tempo na sua vida, que tinha buscado nas ovelhas e nos livros, nos cristais e no silêncio do deserto.

Ali estava a pura linguagem do mundo, sem explicações, porque o Universo não precisava de explicações para continuar o seu caminho no espaço sem fim. Tudo o que o rapaz entendia naquele momento era que estava diante da mulher da sua vida e, sem nenhuma necessidade de palavras, ela devia saber disso também. Tinha mais certeza disso do que qualquer coisa no mundo, mesmo que seus pais, e os pais de seus pais dissessem que era preciso namorar, noivar, conhecer a pessoa e ter dinheiro antes de casar. Quem dizia isso talvez nunca tivesse conhecido a Linguagem Universal, porque quando se mergulha nela é fácil entender que existe sempre no mundo uma pessoa que espera a outra, seja no meio de um deserto ou no meio das grandes cidades. E quando estas pessoas se cruzam, e os seus olhos se encontram, todo o passado e todo o futuro perdem qualquer importância, e só existe aquele momento, e aquela certeza incrível de que todas as coisas debaixo do Sol foram escritas pela mesma Mão. A mão que desperta o Amor, e que fez uma alma gémea para cada pessoa que trabalha, descansa e busca os tesouros debaixo do Sol. Porque sem isto não haveria qualquer sentido para os sonhos da raça humana.
"O Alquimista", Paulo Coelho

Friday, February 13, 2009

Chega de Saudade


Friday, January 2, 2009

Hoje tenho saudades... até de mim!


“Em todos nós, no mais profundo da alma, há uma subterrânea inquietação, o desejo daquilo que parece sempre escapar-nos, a dor por qualquer coisa que não sabemos bem o que seja. Até quando estamos apaixonados e somos correspondidos, no momento em que nos vamos embora ou o nosso amado parte, mesmo numa separação breve, aquele sofrimento profundo reaparece. Por vezes reaparece até num momento de felicidade porque aquela felicidade se nos revela fugaz. Nós olhamos para o céu, um pequeno pedaço de céu azul, como que para concentrar nele toda a nossa felicidade e sentimos tristeza porque poderemos recordar aquele céu mas não podemos prolongar esse instante. Experimentamos este sofrimento à noite, sem motivo, de manhã ao acordar sem saber porquê. A nossa alma está construída para desejar algo absoluto e, portanto, inefável e inacessível. Quando estamos ocupados não nos apercebemos disso (…) mas toda a nossa vontade está orientada para a meta e é ela que se ilumina com aquilo que procuramos sempre…”


in “A árvore da vida”, Francesco Alberoni

Thursday, January 1, 2009

Mudam-se os tempos,

mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem (se algum houve…) as saudades.
O tempo cobra o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.


E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.



Luís de Camões (1595)

Feliz Ano Novo


“O Papalagui adora muita coisa, mas acima de tudo gosta de uma coisa que não se pode agarrar e que no entanto existe: o tempo. Leva-o muito a sério e conta toda a espécie de tolices acerca dele. Embora não possa haver mais tempo do que o que medeia do nascimento ao pôr-do-sol, isso para o Papalagui nunca é bastante(…) Ao ouvir o barulho da máquina do tempo, queixa-se assim: “Que pesado fardo! mais uma hora passou!” E, ao dizê-lo, mostra geralmente um ar triste, como alguém condenado a uma grande tragédia. No entanto logo a seguir principia uma nova hora! (…) Oh! Meus queridos irmãos! Nós nunca nos queixamos do tempo, amámo-lo e acolhemo-lo tal como ele era, nunca corremos atrás dele, nunca tentamos amalgamá-lo ou cortá-lo em pedaços. Nunca ele nos deixou desesperados ou acabrunhados. Se algum de nós há aí a quem falte tempo, que diga! Todos nós o possuímos em quantidade, não temos razões de queixa. Não precisamos de mais tempo do que o que temos, temos sempre tempo suficiente. Sabemos que atingiremos o nosso alvo a tempo, e que muito embora ignoremos quantas luas se passaram, o Grande Espírito nos chamará quando lhe aprouver. Devemos curar o Papalagui da sua loucura e desvario, para que ele volte a ter noção do verdadeiro tempo que tem perdido. Devemos destruir as suas pequenas máquinas do tempo e levá-lo a confessar que há muito mais tempo do nascer ao pôr-do-sol do que ao homem lhe é dado a gastar”

O Papalagui, tradução de Luiza Neto Jorge
Que este ano não nos falte o tempo, tempo para aprender e esquecer, amar e perder, trabalhar e vencer, ultrapassar obstáculos mesmo que não de forma tão rápida quanto gostaríamos.
Se não corrermos, andamos. Se não andarmos, gatinhamos. O que interessa é ir andando. Não é isto a vida?
Que 2009 seja, sobretudo, um ano de crescimento pessoal e que, ainda que possa vir a ser muito agitado, saibamos manter o silêncio em nós. Bom ano para todos! Muita paz, amor e alegria...

Monday, October 13, 2008


"Reservo para ti, no meu santuário, diz o Senhor, grandezas que a tua alma não pode atingir, por agora. São coisas que nem olho viu nem ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento dos homens, as que preparo para aqueles que me amam. Deixo cair, de tempos a tempos, no teu coração, uma luz repentina como a da estrela cadente que corta os espaços em fracções de segundo e se esvai, como se tivesse passado para lá do firmamento. Querias agarrá-la, mas não podes. Querias saboreá-la, mas ela fugiu sem te dar tempo. Não tenhas medo. na noite da tua fé, aguarda em jubilosa esperança que te manifeste a minha glória."

Luís Rocha e Melo, s.j., "Tu me seduziste e eu deixei-me seduzir"